Carlos Ribeiro que se encontrava a fazer trabalhos de levantamento da carta geológica de Portugal, nomeadamente o estudo e classificação dos depósitos quaternários da região do vale do Tejo, descobre na margem direita da ribeira de Magos a 13 de Abril de 1863 “(…) um montículo d’arenatos recentes com ostras, Cardium edule, ossos, e muitos instrumentos, com uma prodigiosa quantidade de conchas quebradas (…)”, o qual viria a ser identificado como o concheiro do Arneiro do Roquete (Paúl de Magos).
Até hoje, foram descobertos os seguintes concheiros no vale do Tejo:
- no vale da ribeira de Magos: Arneiro do Roquete, Cabeço dos Ossos, Cabeço dos Môrros, Magos de Baixo, Magos de Cima e Cabeço da Barragem , sendo que a localização dos três últimos é actualmente desconhecida;
- no vale da ribeira de Muge: Fonte do Padre Pedro, Flor da Beira, Moita do Sebastião (Fonte da Burra), Cabeço da Arruda e Cabeço da Amoreira;
- no vale da ribeira da Fonte da Moça: Vale da Fonte da Moça I e Vale da Fonte da Moça II.
Até hoje, foram descobertos os seguintes concheiros no vale do Tejo:
- no vale da ribeira de Magos: Arneiro do Roquete, Cabeço dos Ossos, Cabeço dos Môrros, Magos de Baixo, Magos de Cima e Cabeço da Barragem , sendo que a localização dos três últimos é actualmente desconhecida;
- no vale da ribeira de Muge: Fonte do Padre Pedro, Flor da Beira, Moita do Sebastião (Fonte da Burra), Cabeço da Arruda e Cabeço da Amoreira;
- no vale da ribeira da Fonte da Moça: Vale da Fonte da Moça I e Vale da Fonte da Moça II.
Fig. 1 - Localização dos Concheiros do Vale do Tejo (Foto adaptada Google Earth) |
Os sítios arqueológicos localizados no vale do Tejo (Fig. 1) são concheiros, em geral de dimensões grandes a médias (com áreas estimadas que podem chegar aos 3000 m2), e apresentam uma estratigrafia complexa e longa, cobrindo nalguns casos cerca de 3 mil anos, entre 8300 e 5300 cal BP (6300 e 3350 BC) e com cerca de 5 metros de potência.
São compostos por numerosas conchas, ossos, materiais líticos e de decoração, bem como por estruturas de habitat (buracos de poste, silos e lareiras) e ainda numerosos enterramentos humanos, presentemente num total conhecido superior a 300 indivíduos.
A formação dos concheiros originou grandes concentrações de moluscos bivalves, cuja extensão em potência transformou de forma singular a topografia original do terreno.
As jazidas identificadas até ao momento sugerem apresentar uma distância igual entre elas e, parecem estar organizadas aos pares, de cada um dos lados das ribeiras, o que leva a sustentar a hipótese da existência de uma organização social e de parentesco, assente em clãs e linhas, estas últimas provavelmente exogâmicas.
De acordo com os dados provenientes dos vários estudos dos restos osteológicos, os concheiros de Moita do Sebastião, Cabeço da Amoreira e Cabeço da Arruda poderiam ser ocupados por linhagens ou clãs distintos.
Os Concheiros de Muge mais propriamente o Concheiro do Moita do Sebastião, Concheiro do Cabeço da Amoreira e o Concheiro do Cabeço da Arruda foram classificados Monumentos Nacionais pelo Decreto n.º 16/2011, DR, 1.ª série, n.º 101, de 25-05-2011.
São compostos por numerosas conchas, ossos, materiais líticos e de decoração, bem como por estruturas de habitat (buracos de poste, silos e lareiras) e ainda numerosos enterramentos humanos, presentemente num total conhecido superior a 300 indivíduos.
A formação dos concheiros originou grandes concentrações de moluscos bivalves, cuja extensão em potência transformou de forma singular a topografia original do terreno.
As jazidas identificadas até ao momento sugerem apresentar uma distância igual entre elas e, parecem estar organizadas aos pares, de cada um dos lados das ribeiras, o que leva a sustentar a hipótese da existência de uma organização social e de parentesco, assente em clãs e linhas, estas últimas provavelmente exogâmicas.
De acordo com os dados provenientes dos vários estudos dos restos osteológicos, os concheiros de Moita do Sebastião, Cabeço da Amoreira e Cabeço da Arruda poderiam ser ocupados por linhagens ou clãs distintos.
Os Concheiros de Muge mais propriamente o Concheiro do Moita do Sebastião, Concheiro do Cabeço da Amoreira e o Concheiro do Cabeço da Arruda foram classificados Monumentos Nacionais pelo Decreto n.º 16/2011, DR, 1.ª série, n.º 101, de 25-05-2011.
A Época
O Mesolítico teve início com o fim da era glaciar à cerca de 12.000 cal BP (10.000 BC).
Com a melhoria do clima (aumento da temperatura e humidade) a fauna e a flora sofreram modificações, os grandes mamíferos como o mamute-lanoso e o rinoceronte-lanudo foram extintos e animais como a rena e o bisonte emigraram para norte sendo substituídos por outros cervídeos como o veado e o corço, o javali e o auroque.
A dieta dos Caçadores Recolectores do Mesolítico Final diversificou-se e passou a incluir pequenos mamíferos e aves, surgiram acampamentos especializados em actividades como o marisqueio ou a pesca e a colecta de frutos e raízes estendeu-se.
O armazenamento começa também a ocorrer neste período bem como uma espécie de sedentarização sazonal.
Inicia-se a fabricação de micrólitos (Fig.9), pequenas ferramentas de sílex, para a colecta de moluscos e para a sua abertura, como pontas de flecha, como raspadores ou como buris. O sílex não estando presente na região dos concheiros seria obtido na margem oposta do Tejo.
As armas mais abundantes foram os arcos, feitos de madeira e tendões animais, com flechas que incorporavam na sua ponta micrólitos de variadas formas geométricas: triângulos, trapézios, etc. Também se usaram flechas manufacturadas inteiramente em osso, em corno ou em madeira.
Com a melhoria do clima (aumento da temperatura e humidade) a fauna e a flora sofreram modificações, os grandes mamíferos como o mamute-lanoso e o rinoceronte-lanudo foram extintos e animais como a rena e o bisonte emigraram para norte sendo substituídos por outros cervídeos como o veado e o corço, o javali e o auroque.
A dieta dos Caçadores Recolectores do Mesolítico Final diversificou-se e passou a incluir pequenos mamíferos e aves, surgiram acampamentos especializados em actividades como o marisqueio ou a pesca e a colecta de frutos e raízes estendeu-se.
O armazenamento começa também a ocorrer neste período bem como uma espécie de sedentarização sazonal.
Inicia-se a fabricação de micrólitos (Fig.9), pequenas ferramentas de sílex, para a colecta de moluscos e para a sua abertura, como pontas de flecha, como raspadores ou como buris. O sílex não estando presente na região dos concheiros seria obtido na margem oposta do Tejo.
As armas mais abundantes foram os arcos, feitos de madeira e tendões animais, com flechas que incorporavam na sua ponta micrólitos de variadas formas geométricas: triângulos, trapézios, etc. Também se usaram flechas manufacturadas inteiramente em osso, em corno ou em madeira.
Proveniência
Um pequeno grupo de cerca de dez indivíduos, provenientes provavelmente da Estremadura, instalaram-se na zona mais interior do antigo estuário do Tejo, de águas salobras, com um clima temperado e húmido e muito rico em recursos facilmente acessíveis.
A ocupação
A ocupação inicial ter-se-á dado no vale de Muge, provavelmente no Cabeço da Arruda (o esqueleto nº.6 aqui encontrado data de 8030-8400 cal BP), mas existem várias datações que demonstram uma ocupação sensivelmente contemporânea entre os vários sítios do vale de Muge, vale de Magos e vale da Fonte da Moça o que leva a duas hipóteses:
a) O grupo teria ocupado os locais de maneira rotativa, ocupando cada local por curtos espaços de tempo;
b) Após um período inicial de adaptação no Cabeço da Arruda, e tendo havido boas condições de implantação terá havido um aumento demográfico que terá motivado a expansão de pequenos grupos para diferentes locais dentro do mesmo vale e para os vales adjacentes.
Esta adaptação a novas condições ambientais permitiu a adopção de um modo de vida mais sedentário como atesta a presença de estruturas de habitação e de armazenamento mas tal não pressupõe a perda de mobilidade. De facto, estes concheiros teriam tipo vários tipos de funcionalidade: como depósito de restos alimentares (o mais frequente), como acampamento base e como área funerária.
a) O grupo teria ocupado os locais de maneira rotativa, ocupando cada local por curtos espaços de tempo;
b) Após um período inicial de adaptação no Cabeço da Arruda, e tendo havido boas condições de implantação terá havido um aumento demográfico que terá motivado a expansão de pequenos grupos para diferentes locais dentro do mesmo vale e para os vales adjacentes.
Esta adaptação a novas condições ambientais permitiu a adopção de um modo de vida mais sedentário como atesta a presença de estruturas de habitação e de armazenamento mas tal não pressupõe a perda de mobilidade. De facto, estes concheiros teriam tipo vários tipos de funcionalidade: como depósito de restos alimentares (o mais frequente), como acampamento base e como área funerária.
Como viviam
1) Dieta
As populações de Muge teriam uma dieta de largo espectro, desde invertebrados estuarinos, seguido pelos recursos piscícolas, e continuando pelas aves, repteis e mamíferos como o coelho.
A caça terá constituído uma actividade de relevo sendo o veado a espécie preferida. As carcaças eram transportadas completas para o acampamento, sendo aproveitadas praticamente na sua totalidade, desde a carne, medula, hastes e possivelmente a pele. O animal seria cozinhado como atestam as marcas de corte profundas e repetidas e os sinais de exposição a temperaturas extremamente elevadas.
Outras espécies de artiodáctilos identificadas nos concheiros foram o javali, o corço e o auroque.
2) Habitações
No caso de Muge, não foi possível individualizar plantas de cabanas visto estarem sobrepostas no mesmo espaço sendo difícil descortinar qual a sua interligação. As estruturas de habitação neste período eram sobretudo cabanas (Fig.10) construídas a partir de materiais perecíveis, tendo-se encontrado em Muge vestígios dessas estruturas como fragmentos de argilas secos, frequentemente com impressões de plantas, cuja função é atribuída à constituição das paredes das cabanas e vestígios de buracos de inserção de postes. Na Moita do Sebastião, foi encontrada uma série de buracos de poste que parecem representar uma estrutura sub-rectangular alongada, com um comprimento de cerca de 6 m.
3) Utensílios
Os utensílios mais frequentes encontrados em Muge são as hastes de cervídeo trabalhadas e polidas, por vezes em forma de cabo de punho ou punhal, cuja função está ainda por definir. Existem alguns casos de furadores em osso (Fig.8), tubos decorados, sem que se perceba se têm uma origem mais funcional ou de adorno e costelas de animais que se encontram em alguns casos polidas e que poderiam servir para separar a pele da carne dos animais caçados.
4) Objectos de Adorno
Os objectos de adorno encontrados têm pouca diversidade sendo que os mais frequentes são as conchas de gastrópodes perfuradas para formarem colares (Fig.10). Foram encontrados ainda alguns pendentes, uns em pedra nomeadamente em xisto e quartzito e outros de dentes de cervídeo, bem como fragmentos de quartzo ou de rochas pouco comuns cuja presença está por explicar.
O ocre é uma matéria que também foi encontrada e certamente utilizada tanto no dia à dia, como em rituais funerários e de outro tipo.
5) Vestígios de fogo
Os caçadores-recolectores de Muge eram exímios manipuladores do fogo. As fogueiras produzidas em Muge utilizavam sobretudo madeira morta de carvalhos e pinheiros. Os vestígios de fogueiras, cinzas e carvões, associadas a várias espécies de animais ou mesmo a esqueletos humanos, confirmam a elevada dependência do recurso ao fogo na preparação dos alimentos nestes concheiros.
As populações de Muge teriam uma dieta de largo espectro, desde invertebrados estuarinos, seguido pelos recursos piscícolas, e continuando pelas aves, repteis e mamíferos como o coelho.
A caça terá constituído uma actividade de relevo sendo o veado a espécie preferida. As carcaças eram transportadas completas para o acampamento, sendo aproveitadas praticamente na sua totalidade, desde a carne, medula, hastes e possivelmente a pele. O animal seria cozinhado como atestam as marcas de corte profundas e repetidas e os sinais de exposição a temperaturas extremamente elevadas.
Outras espécies de artiodáctilos identificadas nos concheiros foram o javali, o corço e o auroque.
2) Habitações
No caso de Muge, não foi possível individualizar plantas de cabanas visto estarem sobrepostas no mesmo espaço sendo difícil descortinar qual a sua interligação. As estruturas de habitação neste período eram sobretudo cabanas (Fig.10) construídas a partir de materiais perecíveis, tendo-se encontrado em Muge vestígios dessas estruturas como fragmentos de argilas secos, frequentemente com impressões de plantas, cuja função é atribuída à constituição das paredes das cabanas e vestígios de buracos de inserção de postes. Na Moita do Sebastião, foi encontrada uma série de buracos de poste que parecem representar uma estrutura sub-rectangular alongada, com um comprimento de cerca de 6 m.
3) Utensílios
Os utensílios mais frequentes encontrados em Muge são as hastes de cervídeo trabalhadas e polidas, por vezes em forma de cabo de punho ou punhal, cuja função está ainda por definir. Existem alguns casos de furadores em osso (Fig.8), tubos decorados, sem que se perceba se têm uma origem mais funcional ou de adorno e costelas de animais que se encontram em alguns casos polidas e que poderiam servir para separar a pele da carne dos animais caçados.
4) Objectos de Adorno
Os objectos de adorno encontrados têm pouca diversidade sendo que os mais frequentes são as conchas de gastrópodes perfuradas para formarem colares (Fig.10). Foram encontrados ainda alguns pendentes, uns em pedra nomeadamente em xisto e quartzito e outros de dentes de cervídeo, bem como fragmentos de quartzo ou de rochas pouco comuns cuja presença está por explicar.
O ocre é uma matéria que também foi encontrada e certamente utilizada tanto no dia à dia, como em rituais funerários e de outro tipo.
5) Vestígios de fogo
Os caçadores-recolectores de Muge eram exímios manipuladores do fogo. As fogueiras produzidas em Muge utilizavam sobretudo madeira morta de carvalhos e pinheiros. Os vestígios de fogueiras, cinzas e carvões, associadas a várias espécies de animais ou mesmo a esqueletos humanos, confirmam a elevada dependência do recurso ao fogo na preparação dos alimentos nestes concheiros.
Necrópoles
Como em outros sítios megalíticos, as necrópoles dos concheiros de Muge encontram-se junto dos espaços de vivência o que dificulta a leitura do registo arqueológico.
Não foi possível detectar qualquer padrão específico no enterramento dos esqueletos, se bem que, no caso da Moita do Sebastião verifica-se a existência de pequenos grupos cujos esqueletos apresentavam datações muito próximas. As posições de enterramento dos esqueletos variam bastante, encontrando-se em decúbito dorsal (a maioria) ou posição fetal, estando documentadas também outras posições intermédias com pernas semi-flectidas.
Os enterramentos humanos parecem ter lugar principalmente na base dos vários concheiros, embora no Cabeço da Arruda e no Cabeço da Amoreira existam algumas sepulturas no topo da sequência estratigráfica.
No que respeita à cronologia destes esqueletos, a maioria dos esqueletos encontra-se no intervalo entre os cerca de 7900 e 7250 cal BP, mas existem alguns mais antigos no Cabeço da Arruda e outros mais recentes (também no Cabeço da Arruda e na Moita do Sebastião).
Os objectos de adorno estão presentes em muitos dos enterramentos, normalmente gastrópodes perfurados e é comum, também, encontrar-se um micrólito junto do esqueleto.
A eventual associação de restos alimentares a esqueletos humanos ainda está por confirmar.
Foram encontrados ossos dispersos e um enterramento completo de um cão (7800-7970 cal BP), (Fig.15) o que comprova a relação de proximidade deste animal com os humanos, que viria a prolongar-se até hoje. A presença de falanges roídas indica essa mesma proximidade e sugere o aproveitamento dos restos alimentares dos humanos pelo cão.
Não foi possível detectar qualquer padrão específico no enterramento dos esqueletos, se bem que, no caso da Moita do Sebastião verifica-se a existência de pequenos grupos cujos esqueletos apresentavam datações muito próximas. As posições de enterramento dos esqueletos variam bastante, encontrando-se em decúbito dorsal (a maioria) ou posição fetal, estando documentadas também outras posições intermédias com pernas semi-flectidas.
Os enterramentos humanos parecem ter lugar principalmente na base dos vários concheiros, embora no Cabeço da Arruda e no Cabeço da Amoreira existam algumas sepulturas no topo da sequência estratigráfica.
No que respeita à cronologia destes esqueletos, a maioria dos esqueletos encontra-se no intervalo entre os cerca de 7900 e 7250 cal BP, mas existem alguns mais antigos no Cabeço da Arruda e outros mais recentes (também no Cabeço da Arruda e na Moita do Sebastião).
Os objectos de adorno estão presentes em muitos dos enterramentos, normalmente gastrópodes perfurados e é comum, também, encontrar-se um micrólito junto do esqueleto.
A eventual associação de restos alimentares a esqueletos humanos ainda está por confirmar.
Foram encontrados ossos dispersos e um enterramento completo de um cão (7800-7970 cal BP), (Fig.15) o que comprova a relação de proximidade deste animal com os humanos, que viria a prolongar-se até hoje. A presença de falanges roídas indica essa mesma proximidade e sugere o aproveitamento dos restos alimentares dos humanos pelo cão.
Como desapareceram
A partir de 5500 cal BP (3550 BC) as condições estuarinas na ribeira de Muge regrediram, tendo-se verificado progressivamente a mudança para um ambiente de água doce o que afectou de modo significativo a biodiversidade do estuário: as espécies de peixes e crustáceos que não toleram a água doce são impedidos de atingir as proximidades dos concheiros e os bancos de moluscos tendem progressivamente a desaparecer. As populações viram-se para os recursos terrestres que também se esgotam. Além disso, surge, numa fase final, a competição com outros grupos que se foram instalando na região, e se começavam a sedentarizar e a praticar a agricultura.
Todos estes factores levam ao abandono dos concheiros. O último local a ser ocupado terá sido o Cabeço da Amoreira onde foi encontrado um carvão datado de 5760-6000 cal BP.
Todos estes factores levam ao abandono dos concheiros. O último local a ser ocupado terá sido o Cabeço da Amoreira onde foi encontrado um carvão datado de 5760-6000 cal BP.
Mas a questão que fica por responder é o que aconteceu aos grupos mesolíticos do Vale do Tejo?
Poder-se-á afirmar que se poderiam ter deslocado para zonas mais a jusante do estuário do Tejo onde seriam encontradas condições semelhantes de captura de moluscos, mas até hoje não foram encontradas quaisquer evidências que isso tivesse acontecido.
Ter-se-ão juntado aos núcleos do Sado e da costa sudoeste mais a Sul?
Terão progressivamente integrado as populações agricultoras?
Ou terão acabado por se extinguir?
Talvez as três hipóteses sejam compatíveis, podendo ter-se verificado em simultâneo.
Poder-se-á afirmar que se poderiam ter deslocado para zonas mais a jusante do estuário do Tejo onde seriam encontradas condições semelhantes de captura de moluscos, mas até hoje não foram encontradas quaisquer evidências que isso tivesse acontecido.
Ter-se-ão juntado aos núcleos do Sado e da costa sudoeste mais a Sul?
Terão progressivamente integrado as populações agricultoras?
Ou terão acabado por se extinguir?
Talvez as três hipóteses sejam compatíveis, podendo ter-se verificado em simultâneo.
Fig.2 - Mapa de locais Epipaleoliticos e Mesoliticos na Região Centro de Portugal. (Foto daqui) |
Fig.3 - Moita do Sebastião (Foto:Arqueologia e Ambiente) |
Fig.4 - Cabeço do Arruda (Foto: DGPC) |
Fig.5 - Cabeço da Amoreira (Foto: daqui) |
Fig.6 - Cabana Megalítica (reconstrução) (Foto:Megalitismo) |
Fig.7 - Indústrias líticas e ósseas dos concheiros de Muge (Foto:Estudos Arqueológicos Oeiras) |
Fig.8 - Furadores em osso Museu Geológico de Lisboa (Foto PhotoArch) |
Fig.9 - Micrólitos encontrados em Muge Museu Geológico de Lisboa (Foto PhotoArch) |
Fig.10 - Objectos de adorno encontrados em Muge Museu Geológico de Lisboa (Foto PhotoArch) |
Fig.11 - Hemi-mandíbula de corço (Capreolus capreolus) Museu Geológico de Lisboa (Foto PhotoArch) |
O Espólio encontrado
Os restos recolhidos nas escavações do século XIX e dos anos 60 do século XX estão depositados no Museu Geológico do INETI em Lisboa.
Os materiais das escavações dos anos 30 (séc.XX) encontram-se no Museu de História Natural da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
Os materiais das escavações de 1997 a 2003 estão presentemente ao cuidado do Centro de Estudos Arqueológicos da Universidade Autónoma de Lisboa.
Os Concheiros
Fig.12 - Arneiro do Roquete (Foto: DGPC) |
Fig.13 - Arneiro do Roquete (Foto: DGPC) |
Fig.14 - Cabeço do Arruda Cranio 1 - Escavação de 1864 Foto:Cabeço da Arruda in the 1860s |
Fig.15 - Cabeço do Arruda Esqueleto de cão recuperado em 1880 (Foto: daqui) |
Fig.16 - Vista parcial da base do concheiro do Cabeço do Arruda, onde se dispersavam diversos enterramentos. (1880) (Foto: daqui) |
Fig.17 - Cabeço do Arruda Escavação de 1937 (Foto daqui) |
Fig.18 - Cabeço do Arruda Escavação de 1964 (Foto: daqui) |
Fig.19 - Moita do Sebastião Escavação de 1953 (Foto: daqui) |
Fig.20 - Moita do Sebastião Escavação de 1953 (Foto: daqui) |
Fig.21 - Moita do Sebastião Escavação de 1953 (Foto: daqui) |
Fig.22- Moita do Sebastião, 1999 Esqueleto nº 12 - estava rodeado por uma concentração de Helix pisana não perfuradas (Foto: daqui) |
Fig.23 - Moita do Sebastião Base do poste de madeira n.º 16, calcinada e envolta em brecha (Foto: daqui) |
Fig.24 - Moita do Sebastião Buracos (foto:Arqueologia e Ambiente) |
Fig.25 - Cabeço da Amoreira 1933 CAM -01 (Foto daqui) |
Fig.26 - Cabeço da Amoreira 1933 Esqueletos 7 e 8 (Foto daqui) |
Fig.27 - Cabeço da Amoreira 1962 Enterramento Colectivo - "Ignio e Patroa" (Foto daqui) |
Fig.28 - Cabeço da Amoreira 1963 Esqueletos 12 (Domingos) e 13 (António) (Foto daqui) |
Fig.29 - Cabeço da Amoreira 2000/2001 8015-7695 cal BP CAM-00-01 (base) enterramento intacto de uma criança enterrado num espaço muito pequeno. Encontrava-se em decúbitos dorsal, com as pernas flectidas por cima do tronco, seguras pelo braço esquerdo. Este enterramento terá sido feito numa cova não muito profunda e de pequenas dimensões. (Foto: daqui) |
Fig.30 - Cabeço da Amoreira Estrutura de seixos (Foto DGPC) |
Fig.31 - Cabeço da Amoreira Concentração de fauna malacológica (Foto DGPC) |
Fig.32 - Cabeço da Amoreira (Foto daqui) |
Fig.33 - Crânio com vestígios de ocre Museu Geológico de Lisboa (Foto PhotoArch) |
Fig.34 - Cabeço da Amoreira Escavação 2011 (Foto daqui) Enterramento de indivíduo de sexo feminino entre os 20 e os 35 anos. Houve grande cuidado e ritualidade no enterramento, para o qual foi aberta uma cova pouco profunda com o tamanho do corpo. O corpo foi colocado em cima de conchas de lambujinha deitado de lado, com as pernas dobradas. A mão direita ficou a repousar nos joelhos, enquanto o braço esquerdo foi encolhido e a mão colocada junto ao peito. A cabeça terá sido apoiada num objecto que se degradou, por isso o pescoço descaiu para trás. A tapar o corpo, um manto também de conchas que eram de lambujinha a cobrir a cabeça e o tronco; enquanto as das pernas e cintura eram de berbigão. Junto ao corpo, como oferenda, também foram depositados ossos de veado e parte do crânio de um cão doméstico. Após o enterramento, o sítio foi coberto com uma camada de pedras. |
Fig.35 - Concheiros da Ribeira de Magos Os concheiros sinalizados a azul têm a sua localização desconhecida (Foto adaptada Google Earth) |
- Arneiro do Roquete
O concheiro Arneiro do Roquete situa-se na margem direita da ribeira de Magos, na herdade da Quinta da Sardinha, e foi o primeiro concheiro identificado no vale do Tejo, em Abril de 1863 por Carlos Ribeiro e o primeiro a ser estudado, embora muito sumariamente, devido à impossibilidade de se efectuarem escavações, por oposição do proprietário.
A designação deste concheiro tem suscitando diversas dúvidas, tendo ao longo da história da investigação os topónimos Quinta da Sardinha, Cabeço dos Ossos, e Cova da Onça.
Em 1867, Ribeiro encontrou, entre outros, parte de um crânio humano com visíveis alterações provocadas pelo solo, pinças de caranguejo, dentes de animais e várias espécies de bivalves.
Só na década de 80 do século XX se realizaram as primeiras escavações arqueológicas no concheiro que permitiram não só traçar um perfil estratigráfico, como também identificar algumas estruturas (lareiras e fossas). Foi recolhida fauna mamalógica que cobria abundantemente todo o concheio, material lítico, cerâmica (camada de remeximento) e conchas perfuradas. Não são conhecidos nenhuns contextos funerários específicos.
Actualmente este concheiro encontra-se totalmente destruído, consequência dos trabalhos de terraplanagem e de regularização do vale do Tejo realizados nos anos 70 do século XX.
- Cabeço dos Ossos
Concheiro contíguo ao da Cova da Onça (Arneiro do Roquete), foi assim descrito em 1938:
“o de Cova da Onça encontra-se quasí todo destruído, e o seu material foi aproveitado nas obras de defesa do Paúl. O do Cabeço dos Ossos, muito revolvido pelas culturas, está quasí todo ocupado por plantações de vinha” (Paço, 1938:12).
Chegou-se mais tarde a considerar a hipótese que faria parte do mesmo concheiro dividido por trabalhos agrícolas.
- Cabeço dos Môrros
O concheiro do Cabeço dos Môrros, descoberto em 1893, localiza-se na margem esquerda da ribeira de Magos, 2,3 km a montante da confluência desta ribeira com o rio Tejo. Situado nos baixos terraços do Tejo, a uma cota de c. 8 m, numa posição geográfica que se poderia equiparar a uma praia fluvial com uma área de ocupação efectiva de forma oval com cerca de 30 x 20 m.
O resutado das escavações efectuadas no local, revela que o sítio apresenta um nível de ocupação com cerca de 1 metro de potência marcada pela presença de materiais de cronologia mesolítica em três camadas. Constatou a existência de fracos indícios de "estrutura de combustão", pelo facto de se ter detectado nalgumas camadas vestígios de carvões, de uma fraca densidade de vestígios de fauna terrestre em contraste com os de fauna malacológica abundante. Encontraram-se alguns vestígios de estruturas de habitat, nomeadamente um pequeno murete de suporte.
Foi recolhido material lítico (como facas, percutores, furadores, raspadores, muitas lascas de sílex e quartzite e vários micrólitos trapezoidais.
Não existe, neste concheiro, referência a contextos funerários ou materiais antropológicos descobertos nas escavações à excepção de um crânio e alguns ossos humanos recolhidos à superfície quando da sua descoberta.
A sua utilização terá sido quase exclusivamente uma área de concentração de capturas de fauna malacológica (ameijoa, berbigão).
Encontra-se parcialmente preservado.
- Cabeço da Barragem
Ficava situado a montante do concheiro de Magos de Cima e terá sido destruído com a construção de uma barragem, para irrigação do Paúl. Na altura da sua localização em 1938, foi descrito como um sítio de reduzidas dimensões.
- Magos de Baixo
Situava-se, supostamente, defronte do concheiro Magos de Cima, na margem esquerda da ribeira. Localizado por Hipólito Cabaço, não surgem referências à data de sua descoberta, tendo sido feitas meras recolhas superficiais de fauna “mesolítica”, escórias de fundição e cerâmica de época romana.
Actualmente. já não é possível relocalizar esta jazida, acreditando-se que terá sido devastada pelas obras de aproveitamento hidroagrícola do vale de Magos.
- Magos de Cima
Situava-se a montante do concheiro Arneiro do Roquete, na margem direita da ribeira de MagosAs únicas referências a esta jazida são de Hipólito Cabaço, que dá conta de o ter descoberto no final de 1935, descrevendo a existência de muitas conchas, especialmente ostras, escória de fundição e cerâmica romana, tal como em Magos de Baixo.
Trabalhos de prospecção efectuados em 1999 não permitiram fazer a sua relocalização.
Fig.36 - Concheiros da Ribeira de Muge Os concheiros sinalizados a azul têm a sua localização desconhecida (Foto adaptada Google Earth) |
- Fonte do Padre Pedro
A Fonte do Padre Pedro situava-se num baixo terraço de 15 metros, na margem direita da Ribeira Muge, a cerca de dois quilómetros do Cabeço da Arruda.
Localizado em 1884, sabe-se que teria um comprimento entre 90 a 100 metros e uma largura de 40 a 50 metros mas apenas cerca de um metro de altura. Foi completamente destruído em 1880, devido à plantação de uma vinha mas no final do século XX a jazida é relocalizada tendo sido identificado à superfície uma camada de terra escura com muitas conchas.
Os únicos trabalhos encetados foram recolhas de superfície e sondagens e o material recolhido é escasso, no entanto as espécies de bivalves eram variadas: Cardium, Ostrea, Tapes e Lutraria, em predominância.
Quanto aos restos osteológicos humanos e contextos funerários, foram encontrados um fémur e quatro esqueletos, quase à superfície, sepultados com indústria material romana (o que cronologicamente não corresponde à época); um esqueleto, este assente sobre as areias da base do concheiro e mais 6 esqueletos, quase à superfície, descobertos em 1880.
- Flor da Beira
O concheiro da Flor da Beira está localizado entre a Fonte do Padre Pedro e o Cabeço da Arruda, na margem direita da Ribeira Muge. Foi identificado em 1935.
Em 1999 estendia-se por uma grande área e foi alvo de prospecções onde se identificaram bastantes vestígios cerâmicos e líticos atribuíveis ao Neolítico e à Época Romana.
Pouco se sabe acerca deste concheiro, não havendo registo de materiais arqueológicos ou antropológicos recolhidos.
Encontra-se totalmente destruído e coberto por plantações embora ainda seja possível encontrar, à superfície, minúsculos fragmentos de conchas.
- Moita do Sebastião
Localizado a margem esquerda da ribeira de Muge sobre um esporão 20 metros acima do nível médio do mar, Moita do Sebastião, também conhecido por Fonte da Burra constituiria um lugar privilegiado: para além de proporcionar uma excelente visibilidade, encontrava-se fora do alcance das cheias.
De forma elíptica com cerca de 300 m2 e uma altura máxima de 2.5 m o concheiro Moita do Sebastião foi identificado em 1864 por Carlos Ribeiro.
Em Abril de 1952 foi parcialmente destruído para instalação de um complexo agrícola para processamento de arroz. A maior parte dos depósitos arqueológicos que formavam o concheiro foram devastados, restando apenas, os níveis de base que atingiam, no máximo, c. 40 cm de espessura.
Foi efectuada uma escavação de emergência de Abril a Junho de 1953 e de Maio a Junho de 1954 com o objectivo de se recuperar o máximo de informação possível. E muitas mais se seguiram sendo que Moita do Sebastião, apesar da sua parcial destruição, é o concheiro melhor conhecido.
A escavação pôs a descoberto, nos níveis de base do concheiro, cerca de 40 sepulturas humanas que revelaram que os corpos eram colocados em depressões. Os adultos foram sepultados em depressões naturais de bordos imprecisos e pouca profundidade, talvez pequenas ondulações naturais do terreno mas as crianças foram inumadas separadamente dos adultos, em fossas pouco profundas, de bordos claros, escavadas na areia.
Em três sepulturas foram detectados carvões e cinzas, correspondendo, provavelmente, ao uso de fogo durante os rituais funerários; em dois casos as sepulturas estavam rodeadas por carvões, indicando um pequeno fogo ritual e num único caso o fogo tinha sido intenso ao ponto de calcinar o crânio.
Foram, também, identificados três enterramentos associados a depósitos votivos (oferendas) com moluscos: um estava deitado sobre um leito de Tapes decussata (Ameijoa) fechadas, outro estava rodeado por uma concentração de Helix pisana (caracol) não perfuradas e outro estava associado a uma bolsa, com 0.35m de largura e 0.05m de espessura, de conchas fragmentadas de Scrobicularia plana (Lambujinha), interpretada como um depósito ritual, por se tratar de um vestígio distinto na área da sepultura.
Também foram encontrados materiais líticos entre os quais um trapézio encontrado sobre o peito de um indivíduo adulto de sexo feminino.
Na Moita do Sebastião foram encontrados elementos de adorno no corpo dos inumados, integrando colares, braceletes ou peitorais, constituídos por conchas. A presença de ocre num crânio reforça a ideia de cerimoniais complexos (Fig.33).
Foram também identificadas, estruturas interpretadas como vestígios de habitat (e.g. lareiras, silos, fossas, buracos de postes, fundo de cabana):
a)Buracos de poste: cavidades escavadas nas areias de base, com o perfil estreito, alongado e afilado na base contendo restos carbonizados de madeira; encontravam-se dispostos num semi-círculo com abertura para Sul, com diâmetro de 8 metros. Foram interpretados como evidência de uma cabana ou abrigo semi-circular, com estrutura de troncos e revestimento de materiais vegetais, eventualmente revestidos com barro. Mas outras teorias apontam para uma estrutura, constituída por uma paliçada de postes, provavelmente de diferentes alturas, formando um recinto, que seria elemento integrante e complementar da necrópole.
b)Fossas planas: 11 fossas. Cavidades com bordos abruptos ou ligeiramente boleados, com o fundo geralmente plano; o enchimento era, na maioria dos casos, constituído por brecha com mais ou menos cinzas, com excepção de duas que continham restos osteológicos (restos de ossos humanos) e uma com brecha cinzenta, rica em fragmentos de conchas;
c)Fossas profundas: 7 fossas com perfil semi-circular ou em U com os bordos abruptos. O enchimento era constituído por pequenos fragmentos de cinzas;
d)“Silos” de conchas: 1 com enchimento de conchas fechadas, e outro com conchas fechadas juntamente com numerosos artefactos de sílex, interpretados inicialmente como silos para armazenamento de moluscos e mais tarde como depósitos de oferendas para complexos rituais provavelmente de carácter funerário;
e)Buracos (Fig.24): 4 cavidades agrupadas numa área de 4 m2, com enchimento de brecha.
Uma das características mais marcantes da Moita do Sebastião são as evidências de organização intra-sítio que mostram claramente duas áreas separadas de funcionalidade: uma para habitação com silos, fossas e buracos de poste e outra para enterramentos.
- Cabeço da Amoreira
O Cabeço da Amoreira encontra-se localizado na ribeira de Muge num terraço de cota de 22 metros, de forma elíptica com 90m de comprimento e 50m de largura e uma potência estratigráfica máxima de 3,25m.
Descoberto em 1864, foi apenas alvo de algumas sondagens, tendo sido realizadas as primeiras escavações em 1884 e 1885.
Os materiais recolhidos são variados mas comuns aos outros concheiros: fauna malacológica (Fig.31) (maioritariamente lamejinha e berbigão) e mamalógica, indústria lítica (sílex, quartzo, quartzito) e óssea (sobre falanges de cervídeo), e materiais antropológicos.
Na sua base foram identificadas depressões circulares, com c. 60 cm de diâmetro, repletas de conchas, carvões, espinhas e pinças de caranguejo que parecem ser pequenos depósito de armazenamento de provisões ou fornos para cozinhar.
As escavações arqueológicas aqui realizadas permitiram concluir que estas populações não habitaram à volta do concheiro, mas sim sobre a própria acumulação dos resíduos, encontrando-se igualmente em muitos casos as sepulturas embaladas no próprio concheiro.
Pelo estudo estratigráfico, foram identificados três períodos de ocupação, separados por dois períodos de aplanamentos.
1) 1ª fase - c. 7900 e 7700 cal BP (2σ). Ocupação na base, com uma utilização residencial de longo termo (acampamento), comprovada pela presença de estruturas habitacionais na secção sudeste do concheiro. Os registos mais a norte indicam a presença de uma área de enterramentos.
2) Curto hiato ( Interrupção entre dois acontecimentos), provavelmente de cerca de duas décadas.
3) 2ª fase - c. 7700 e 7600 cal BP (2σ). Esta fase corresponde a deposições antrópicas (realizadas pelo homem) de vários níveis de conchas, intercalando berbigão (Cerastoderma edule) e lamejinha (Scrobicularia plana), e contendo também uma vasta variedade de fauna mamalógica e malacológica e indústria lítica. Existem poucas evidências de estruturas habitacionais nesta fase.
4) Hiato de cerca de 200 anos.
5) 3ª fase - início a c. de 7500 cal BP. Nova fase de enterramentos, colocados mais acima dos níveis de conchas, coberto pelo cairn.
6) 4ª fase ("cairn" - pilha de pedras feita pelo Homem)- Duração de cerca de 100 anos.
7) 5ª fase - Neolítico. Embora existam incertezas quanto à utilização neolítica deste concheiro, sabe-se que foi pelo menos utilizado por razões funerárias, tendo o cairn sido aberto várias vezes para deposições funerárias.
Foram descobertos esqueletos depositados sobre grandes quantidades de conchas.
Neste concheiro foram encontrados materiais votivos associados a 9 enterramentos:
Adornos: associados a 2 enterramentos individuais de dois adultos de sexos diferentes. Os adornos consistem em conchas perfuradas encontradas sobre os esqueletos.
Materiais corantes: associado a apenas um enterramento, foram descobertos sobre o tronco do esqueleto.
Materiais líticos (gerais): foram associados a 6 enterramentos individuais. Os materiais estavam localizados, num dos casos perto dos membros superiores e inferiores, estando nos restantes enterramentos à volta e sobre o corpo.
Geométricos: foram encontrados sobre o tronco de 2 indivíduos.
E outros como:
Ossos de mamíferos, Carvão, Pinças de caranguejo, lascas em quartzito, peças líticas em sílex, Scrobicularia plana (lambujinha) e Cerastoderma edule (berbigão) este último que aparece em grande quantidade num enterramento sobre a zona inferior do corpo.
Existem cerâmicas, embora poucas, na camada superior, sugerindo uma possível ocupação neolítica, já numa fase tardia.
Neste concheiro foram encontrados materiais votivos associados a 9 enterramentos:
Adornos: associados a 2 enterramentos individuais de dois adultos de sexos diferentes. Os adornos consistem em conchas perfuradas encontradas sobre os esqueletos.
Materiais corantes: associado a apenas um enterramento, foram descobertos sobre o tronco do esqueleto.
Materiais líticos (gerais): foram associados a 6 enterramentos individuais. Os materiais estavam localizados, num dos casos perto dos membros superiores e inferiores, estando nos restantes enterramentos à volta e sobre o corpo.
Geométricos: foram encontrados sobre o tronco de 2 indivíduos.
E outros como:
Ossos de mamíferos, Carvão, Pinças de caranguejo, lascas em quartzito, peças líticas em sílex, Scrobicularia plana (lambujinha) e Cerastoderma edule (berbigão) este último que aparece em grande quantidade num enterramento sobre a zona inferior do corpo.
Existem cerâmicas, embora poucas, na camada superior, sugerindo uma possível ocupação neolítica, já numa fase tardia.
- Cabeço do Arruda
O concheiro Cabeço da Arruda foi o segundo a ser identificado em 24 de Abril de 1863 no vale do Tejo e o primeiro na ribeira de Muge. Distingue-se dos outros por se localizar na margem direita e por estar situado a uma cota de simplesmente 8m, o que significa que era afectado periodicamente pelas cheias.
É o concheiro que apresenta maior potência estratigráfica, chegando a atingir 5 m e foram identificados 5 períodos de ocupação diferenciados.
O Cabeço da Arruda, é o único concheiro da margem direita da ribeira de Muge sucessivamente escavado desde a sua descoberta.
Os vários trabalhos arqueológicos realizados permitiram o conhecimento aprofundado deste concheiro.
Em 1864 foram exumados 45 esqueletos; em 1880 foram exumados mais 120 entre este concheiro e o da Moita do Sebastião; e mais 15 exumações até ao ano 2000.
Foram também encontradas várias peças em sílex perto de alguns esqueletos. Os enterramentos não se encontravam dispersos pela área do concheiro, o que levava a crer que escolhessem uma área do concheiro a cerca de 20 ou 40 metros da zona de habitação para sepultar os mortos. Ao fim de algum tempo, voltariam a usar a dita área como zona de habitação, passando a usar a área abandonada como nova área de enterramentos.
Foi recolhida abundante indústria lítica em sílex (trapézios, triângulos, lamelas de dorso), em quartzito e em osso, bem como numerosa fauna animal.
Fig.37 - Concheiros da Ribeira da Fonte da Moça (Foto adaptada Google Earth) |
- Fonte da Moça I
Localizado na margem esquerda da ribeira Fonte da Moça, sobre um baixo terraço fluvial quaternário à cota de 5-10 metros, foi descoberto em 1981 e encontrava-se parcialmente destruído nas camadas superficiais por terraplanagens, decorrentes da actividade agrícola.
Os níveis de ocupação, embora parcialmente revolvidos, permitiram uma leitura estratigráfica.
Em 1982, iniciam-se os trabalhos arqueológicos que se prolongaram até 1986. Foram realizadas sondagens e levantamento topográfico.
Estes trabalhos arqueológicos forneceram abundante material lítico de natureza, microlaminar, onde sobressaem os micrólitos geométricos (sobretudo crescentes) e macro-utensílios em quartzito e em quartzo. fauna malacológica e mamalógica, microfauna, artefactos de adorno. Não são conhecidos contextos funerários definidos neste concheiro se bem que foram encontrados fragmentos de ossos, dentes e 1 crânio de uma criança.
- Fonte da Moça II
A Fonte da Moça II localiza-se margem esquerda da ribeira Fonte da Moça a cerca de um quilómetro e meio da Fonte da Moça I, a uma cota de 24 metros. Quanto foi descoberto, em 1984, apresentava-se parcialmente destruído, sendo que metade do concheiro havia sido alvo de terraplanagens para plantação de uma vinha (c. 1,30 m), restando a outra metade, que se estende por uma área de c. 2500 m2.
Nos final dos anos de 1980, foram realizadas sondagens que evidenciaram estruturas de combustão, fauna malacológica e ictiológica (peixes) e material lítico em sílex, não sendo conhecido nenhum material osteológico ou funerário.
As últimas referências a este concheiro data de finais da década de 1990 e nesta altura apresentava um corte de 30 a 40 metros de comprimento com estratigrafia preservada. No entanto, um ano depois, não foi possível voltar a identificar este concheiro.
Fontes:
Analysis of Burials from the New Excavations of the Sites Cabeço da Amoreira and Cabeço da Arruda (Muge, Portugal) - Mirjana Roksandic - Article · January 2006
Amoreira 1930 to 1933 - Mary Jackes, Pedro Alvim and Maria José Cunha
Carlos Ribeiro e o reconhecimento do solo quaternario do vale do tejo: enquadramento Geológico dos concheiros mesolítico das ribeiras de Magos e de Muge - João Luís Cardoso - ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS DE OEIRAS,Volume 20 • 2013
Moita do Sebastião, 1952-54: o núcleo de um concheiro de Muge - Pedro Alvim - Article · January 2010
Muge 150th: The 150th Anniversary of the Discovery of Mesolithic Shellmiddens—Volume 1 - Nuno Bicho, Cleia Detry, T. Douglas Price and Eugénia Cunha
PROSPECÇÕES E ESCAVAÇÕES NOS CONCHEIROS MESOLÍTICOS DE MUGE E DE MAGOS (SALVATERRA DE MAGOS): CONTRIBUIÇÃO PARA A HISTÓRIA DOS TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS EFECTUADOS - por João Luís Cardoso & José Manuel Rolão - ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS DE OEIRAS,Volume 8 . 1999/2000- Cabeço da Arruda in the 1860s - In book: Muge 150th: The 150th Anniversary of the Discovery of Mesolithic Shellmiddens - Volume 1, Chapter: Cabeço da Arruda in the 1860s, Publisher: Cambridge Scholars Publishing, Editors: N. Bicho, C. Detry, T.D. Price & E. Cunha, pp.45-58
Redating a Mesolithic skeleton from Cabeço da Arruda, Muge, Portugal - M.K. Jackes and D. Lubell e M.J. Cunha - Mesolithic Miscellany 22 (2014)
Sistemas de povoamento, subsistência e relações sociais dos últimos caçadores -recoletores do Vale do Tejo - Nuno Bicho - ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS DE OEIRAS,Volume 17 • 2009
The Emergence of Muge Mesolithic Shell Middens in Central Portugal and the 8200 cal yr BP Cold Event - Nuno Bicho, Cláudia Umbelino,Cleia Detry,Telmo Pereira - Article in The Journal of Island and Coastal Archaeology 5(1):86-104 · April 2010
Paleoecologia e Paleoeconomia do Baixo Tejo no Mesolítico Final: O contributo do estudo dos mamíferos dos concheiros de Muge - Cleia Detry Cardoso e Cunha - Tese de Doutoramento em História, 2007 - Variante Arqueologia - Universidade de Salamanca
MODELOS PREDITIVOS EM SIG NA LOCALIZAÇÃO DE SÍTIOSARQUEOLÓGICOS DE CRONOLOGIA MESOLÍTICANO VALE DO TEJO - Célia Gonçalves Sequeira - Dissertação para a obtenção do grau de mestre em Arqueologia, 2009 - Universidade do Algarve
AS PRÁTICAS FUNERÁRIAS NOSCONCHEIROS MESOLÍTICOS DE MUGE- Olívia Figueiredo - Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Arqueologia, 2014 - Universidade do Algarve
Sem comentários:
Enviar um comentário